Análise: Espanha sabe sofrer e convencer para eliminar Alemanha

A Espanha está classificada para as semifinais da Eurocopa 2024. Na tarde da última sexta-feira (5), a equipe comanda por Luís de la Fuente venceu a Alemanha por 2 x 1, em um jogaço em Stuttgart, com direito a prorrogação. Dani Olmo e Mikel Merino marcaram os gols que levam a "Fúria" para a próxima fase da competição, onde farão um jogo duro contra a fortíssima França. Nem o gol de Wirtz para a Alemanha, este já aos 44 do 2º tempo e que, inclusive, forçou o tempo extra, seria o suficiente para sucumbir a festa espanhola.

O cruzamento delineado rumo à disputa da grande final da Eurocopa já apontava que as chances desta partida acontecer, ainda que de forma "precoce", eram grandes. Contra a Dinamarca e a surpreendente Geórgia, era muito difícil imaginar que Alemanha e Espanha, respectivamente, não se cruzariam nas quartas-de-final. Talvez, o jogo na Arena Stuttgart tenha colocado frente a frente os dois melhores estilos de jogo e resultados já apresentados na competição até aqui.

A renovada Espanha, que abraçou o projeto de Luís de la Fuente e deixou para trás o trabalho ruim de Luís Enrique (dispensado após a Copa do Mundo de 2022), controlou o jogo no tempo normal. Mesmo em "solo alemão", a manutenção na aposta pela velocidade dos jovens Lamine Yamal e Nico Williams pelas pontas, a insistência pelo setor muito criativo formado por Rodri, Pedri e Fabián Ruiz, bem como o faro artilheiro de Álvaro Morata, se mostraram escolhas acertadas do treinador.

Implicando a velocidade sob uma Alemanha que tinha dificuldades em propor o jogo, os espanhóis criavam as melhores chances do jogo e eram presença mais constante no campo de ataque. Mas foi a entrada certeira do meia Dani Olmo, já no início do 2º tempo, que mudaria os rumos do jogo. Reserva muito utilizado por Fuente, ele já havia marcado contra a Geórgia na última fase. Ontem, voltou a brilhar e ainda de maneira mais decisiva, ao abrir o placar para a Espanha aos 5 minutos da etapa final.

A partir daí, a partida passou a ser teste para cardíaco para os alemães que estavam no estádio. Pressionado, o jovem técnico Julian Nagelsmann apelou para o setor ofensivo. O experiente Thomas Mueller, o talismã Füllkrug e o jovem Wirtz (titular no início da competição e que perdeu vaga para Sané ao longo do torneio), entraram no jogo e ajudaram a Alemanha a ter um controle que, até então, não tinha conseguido ter. Os espanhóis começaram a se retrancar e tomaram o gol libertador alemão já aos 44 minutos.

O que se viu da meia hora adicional em Stuttgart, com a prorrogação forçada até o fim pelos alemães, uniu as mais variadas sensações e distinções do futebol. Se os donos da casa reclamam de pênalti não dado após chute de Musiala pegar na mão esquerda de Cucurella, eles também tem motivos para lamentar o não aproveitamento de mais chances. Estas, foram possíveis pela maneira com que a partida no tempo normal terminou: com a Alemanha implicando uma rara pressão e a Espanha se segurando nas cordas.

O picante roteiro de fim de ato deste jogo, talvez tão encaminhado para a disputa por pênaltis, seria escrito por um autor pouco conhecido e cotado para assumir o papel. Mikel Merino, volante, foi uma aposta de Fuente para segurar a grande pressão alemã no 2º tempo da prorrogação. Quis o destino que ele, porém, entrasse para a história das Eurocopas ao marcar um gol inesquecível, no eterno minuto 119 quando, como um atacante, marcou um golaço de cabeça no ângulo de um incrédulo Neuer.

Entre as mazelas da justiça ou injustiça do resultado do jogo quente, temperado também por faltas duras e a expulsão de Carvajal nos acréscimos, Espanha e Alemanha cumpriram o que prometeram e o que todos esperavam: se doaram e lutaram até o fim por uma suada vaga. O lado feliz, o espanhol, fez jus ao seu apelido de "Fúria" e mostrou que saber sofrer também é uma dádiva dos campeões. Se o título virá, porém, ainda não se sabe. A França de Mbappé está pronta para superar a raça espanhola?